Escritos de Rafael Perfeito

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Orquídea Negra


Há duas semanas ela me deu umas begônias. Com um sorriso fabricado, sentou-se à mesa da cozinha, num banquinho vermelho, e terminou tudo. Me deu begônias e terminou tudo.

Hoje ela resolveu me fazer uma visita.

"Meu Deus, as begônias que eu te dei!"

Foi o que saiu de sua boca ao ver o cadáver begônio em cima da geladeira, as cores pútridas de aspecto sepulcral tristemente caídas do pote onde, semanas antes, fulguravam esbeltas.

_Lamento muito! Regá-las seria agir como o negro capitão do mato
ajudando a caçar crioulo fugido!
Seria o judeu a vigiar seus semelhantes nos guetos
para as autoridades nazistas.
Alimentá-las representaria, para mim, ser o carrasco de mim mesmo,
tentando cobrir o rosto com um capuz diante do espelho!!


Isso foi o que gritei a ela, da porta da cozinha, ecoando pelas escadas,
enquanto o elevador a carregava para baixo.

Mas a verdade é que não quis admitir o total esquecimento de ter colocado as begônias em cima da geladeira.
Alguém deveria te-la avisado que sempre preferi orquídeas.
Negras.
Vou acender um cigarro...



3 comentários:

  1. Regá-las seria enfeitar um túmulo vazio. Não faz sentido né. Quanto as orquídeas, tenho que te contar uma lenda urbana sobre elas... Em outra ocasião.

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  2. Da proxima vez que eu for brigar com alguém, levarei flores!!!

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Vocifere!