Escritos de Rafael Perfeito

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Dramas da Modernidade II


Depois de dois meses engaiolado por conta de um pós operatório, ainda não liberado pelo médico, saí feliz de casa para dar uma volta de bicicleta.

Fui pensando em como são incríveis o cérebro e corpo humanos. Depois de tanto tempo sem montar a bike foi só subir que toda a destreza instalou-se, como se eu nunca tivesse deixado de andar. Fui ao parque, desci morros de grama, desviei de carros, pulei meios-fios. O vento na cara e a liberdade nas rodas!

Perto de casa fui pular da calçada para o asfalto, em alta velocidade. Vinha um carro, há uns 20 metros, no mesmo sentido, e ninguém na contra-mão. Tempo calculado, pulei. Quando os pneus tocaram o asfalto, meu pé (não andem de bicicleta usando chinelos!) escorregou do pedal e imediatamente pensei: "fudeu!".


Caí. Ainda dei um impulso na bicicleta que desabava para não ir de cara ao chão. Consegui fazer um rolamento de judô (finalmente aquelas aulas tiveram um propósito, além de aprender a contar até dez em japonês) bem meia boca, ralando o ombro e as costas todas no chão. Parei estatelado na contra-mão. Foi o pior acidente de bicicleta que tive desde os 10 anos de idade, quando atropelei um carro e perdi os dentes de leite que me restavam.

Enquanto eu me levantava, percebi que o tal carro saía de sua via e parava na contra-mão, bem ao meu lado. O vidro se abriu e eu, preto de asfalto e vermelho de sangue, tentava desempenar o pneu da bicicleta.

Olhei para o motorista, segurando o choro. Ficamos uns 10 segundos nos olhando, um silêncio sepulcral. Até que ele resolveu quebrar o gelo:

- Você sabe onde fica a escola classe da 314 sul?

Fiquei encarando-o  mais uns 10 segundos. Encarei também a mulher sentada no banco de passageiros, igualmente impassível. Havia algo de muito estranho na situação toda.

- Você quer o maternal ou a escola de primeira à quarta, porque há duas aqui... - respondi, limpando o sangue dos quadris.
- De primeira à quarta.
- Ah, então pode sair da contra mão e virar à esquerda ali depois da banca de jornal. Você avistará a escola.
- Muito obrigado!
- Não há de quê.

Ele seguiu seu caminho. Eu montei na bicicleta troncha e fui para casa, sujo de asfalto, cheio de sangue e incredulidade.

11 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Me lembrei do grande escritor brasileiro, Monteiro Lobato, visionário embora racista, quando, em 1927, no romance "O Presidente Negro", além de prever a eleição de um presidente negro nos Estados Unidos, previu a divisão da raça humana em pedestres e fordistas!

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  3. ahhhhh que gente mais sem coracao!!!
    nao gosto disso!
    e vc ja esta melhor?

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  4. Gentalha!! Devia ensinar o caminho errado!

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  5. as vezes eu acho que a gente vive numa sociedade de zumbís, mas quando o sapato realmente aperta, aparecem pessoas maravilhosas, que caem do céu só prá nos ajudar.

    PS to achando que vc usou essa histórinha só pra postar a sua foto semi nú...hehehe

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  6. Que absurdo! Melhoras para você!

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  7. Li o texto que indicou e, realmente... existe uma sincronia em nossos blogues :)

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  8. Hum... mostra mais.saudades de você meu bem meu mal.perdi seu tel,o meu na verdade.bjs A.B

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  9. hahhahahahahahahahahaha nossa, parece que vi exatamente a cara que você fez.

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  10. TADINHO PQ QUE EU NÃO ESTAVA AI PRA CUIDAR DE VC SRSRSR.

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