
Botou a cabeça no travesseiro e começou a pensar em voz alta, como se conversasse consigo mesmo.
Em tom imperativo, balbuciou essas palavras:
“Isso. Hoje você provou que não precisa dela. Não pensou em telefonar-lhe nem uma vez, mesmo quando recebeu notícias boas. Quando viu o arco-íris duplo não lembrou de tirar uma foto e enviar ao filho pequeno dela. O moleque adorava ganhar arco-íris de presente...”
Vinha à cabeça, agora, o último ocorrido: há pouco, no elevador, o teste final. “Que peça, Deus, você quis me pregar, hein?”
Bem quando chegava em casa! A vizinha de cima entrou no térreo. Após o cumprimento, o perfume do corpo dela tomou conta do elevador e dos seus sentidos. O mesmo cheiro! Com o nariz fervendo, baixou os olhos tímidos. Viu os pezinhos da moça. Eram alvos, dedos compridos, embora delicados, saindo de peitinhos de pé rechonchudos. Tais quais os dela. Ah!!! Quase deu vontade de pisar carinhosamente em ambos, de leve, e aplicar o outrora costumeiro beijinho na testa, não é verdade?
_ Quase... – Pronunciou, apoiado nas mãos entre o travesseiro e a nuca. O olhar no teto negro.
Com aquele velho sorrisinho de satisfação que sempre puxava seu nariz para baixo, suspirou triunfante e adormeceu...
...não sem antes pensar em ligar pra ela e contar isso tudo.