Do meu lado um filha da puta qualquer de orelhas moles e todo engravatado dorme, sentado na mesa do Beirute, vazia a garrafa de cerveja. Há um IPAD na sua frente. Por que ninguém o furta? Maldita geração yuppie conectada.
Não se pode mais dormir num quarto escuro, de porre, com um pé caindo da cama até o chão para fazer o fio terra. Não se pode mais jogar o telefone fora e dormir até meio dia sem acharem que você foi sequestrado. E se você aparecer vivo em São Jorge, 3 dias depois, você é quem enlouqueceu, e não o mundo pirado cuja fuga dos problemas realizada por um coitado qualquer vira instantaneamente manchete de jornal.
O companheiro do sono é o celular e todas as paranoias cancerígenas que ele traz. Falo de suas ondas imperceptíveis a passear pelo cérebro. O celular na cabeceira da cama. Acomodado num pequeno travesseiro só para ele.
Falo dessa angústia igualmente cancerígena: a vida rápida, conectada, o feed de notícias do Facebook imerso em nossos sonhos. Tudo acumulando-se dentro de nós. Mais cedo ou mais tarde isso explode no seu cérebro, no pulmão ou no cu. E os médicos, de Cuba ou da puta que o pariu, vão te falar a mesma coisa: "Você tá fodido, cara!"
É a linguagem universal da morte. A morte não tem sotaque.
E quando não são as ondas da tecnologia ou a angústia do íntimo globalizado é aquilo que você engole e não cospe.
Isso me lembra uma mulher. Uma devassa, garotinha cristã. Carregava uma culpa! Adorava dar, de tudo que é jeito, mas se escondia, só conseguia trolada de bêbada. Cada foda bem dada gerava mais 3 bebedeiras homéricas e tudo após vinha em progressão geométrica. Principalmente a culpa. Sentar com ela era ouvir lamentações, em sua boca Jesus Cristo na cruz, debaixo da mesa um fogo desgraçado a te alisar.
Ninguém percebeu. Mas Deus sabia. O primeiro cabelo branco dela foi um pentelho. Os pudicos disseram que foi castigo. Eu acho que era só ter se livrado da culpa. Interpretações à parte, ela morreu de câncer no colo do útero.
Beiruteanas são crônicas escritas em alguma mesa do Beirute, tradicional bar de Brasília.
Credo! Quanta culpa!
ResponderExcluir(y) (y) (y) Curto suas poesias rsrsrs
ResponderExcluirps. haha não sabia que vc tinha sido cabeludo!
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