Escritos de Rafael Perfeito

terça-feira, 17 de setembro de 2013

MOLEskine


Prum escritor
A tinta da caneta acabar
É pior do que qualquer BROCHADA.
Ereções voltam...
Algumas ideias
NUNCA.


quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Beiruteanas I

    
     Do meu lado um filha da puta qualquer de orelhas moles e todo engravatado dorme, sentado na mesa do Beirute, vazia a garrafa de cerveja. Há um IPAD na sua frente. Por que ninguém o furta? Maldita geração yuppie conectada.
     Não se pode mais dormir num quarto escuro, de porre, com um pé caindo da cama até o chão para fazer o fio terra. Não se pode mais jogar o telefone fora e dormir até meio dia sem acharem que você foi sequestrado. E se você aparecer vivo em São Jorge, 3 dias depois, você é quem enlouqueceu, e não o mundo pirado cuja fuga dos problemas realizada por um coitado qualquer vira instantaneamente manchete de jornal.

     O companheiro do sono é o celular e todas as paranoias cancerígenas que ele traz. Falo de suas ondas imperceptíveis a passear pelo cérebro. O celular na cabeceira da cama. Acomodado num pequeno travesseiro só para ele.
     Falo dessa angústia igualmente cancerígena: a vida rápida, conectada, o feed de notícias do Facebook imerso em nossos sonhos. Tudo acumulando-se dentro de nós. Mais cedo ou mais tarde isso explode no seu cérebro, no pulmão ou no cu. E os médicos, de Cuba ou da puta que o pariu, vão te falar a mesma coisa: "Você tá fodido, cara!"

     É a linguagem universal da morte. A morte não tem sotaque.

     E quando não são as ondas da tecnologia ou a angústia do íntimo globalizado é aquilo que você engole e não cospe.

     Isso me lembra uma mulher. Uma devassa, garotinha cristã. Carregava uma culpa! Adorava dar, de tudo que é jeito, mas se escondia, só conseguia trolada de bêbada. Cada foda bem dada gerava mais 3 bebedeiras homéricas e tudo após vinha em progressão geométrica. Principalmente a culpa. Sentar com ela era ouvir lamentações, em sua boca Jesus Cristo na cruz, debaixo da mesa um fogo desgraçado a te alisar. 

     Ninguém percebeu. Mas Deus sabia. O primeiro cabelo branco dela foi um pentelho. Os pudicos disseram que foi castigo. Eu acho que era só ter se livrado da culpa. Interpretações à parte, ela morreu de câncer no colo do útero.

Beiruteanas são crônicas escritas em alguma mesa do Beirute, tradicional bar de Brasília.